“Sejam brancos, amarelos, pretos ou azuis, sabemos por que vêm… Não estamos preparados para ser invadidos.”
— André Ventura, líder do Chega, em comício contra a imigração.
🔗 Euronews – Protestos contra imigração e antirracismo no Porto
Nos últimos anos, Portugal se tornou um dos destinos mais procurados por imigrantes de várias partes do mundo, especialmente brasileiros, indianos e africanos. Se, por um lado, o país depende desses trabalhadores para manter a economia e os serviços essenciais funcionando, por outro, cresce o descontentamento entre os portugueses com o ritmo e o volume da imigração.
Cresce o incômodo entre os portugueses
A sensação de muitos portugueses é clara: “o país não aguenta mais tanta gente nova chegando”. Um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos revelou que 68% dos portugueses reconhecem a importância dos imigrantes para a economia, mas mais da metade acredita que eles representam uma ameaça à cultura, à segurança ou ao mercado de trabalho local.
“Nós emigramos legalmente. É assim que deve acontecer num país desenvolvido.”
— Cecilia Guimarães, 66 anos, durante uma marcha contra a imigração organizada pelo partido Chega.
🔗 Euronews – Milhares protestam contra imigração em Lisboa
Essa insatisfação é ainda mais forte em bairros populares, onde o aumento da população imigrante pressiona os preços dos aluguéis, os transportes e os serviços públicos. Em redes sociais e protestos, frases como “voltem para sua terra” e “Portugal é dos portugueses” se tornaram comuns — e preocupantes.
Imigração vira tema político central
Esse clima tem sido aproveitado por partidos como o Chega, que defende o controle rígido das fronteiras e limites à entrada de estrangeiros. Nas eleições de 2024, o partido obteve 22,6% dos votos, refletindo o apoio de uma parcela significativa da população a um discurso mais nacionalista e anti-imigração.
“Muitos brasileiros estragam os imóveis, fazem barulho e colocam mais pessoas do que o combinado”
Proprietários de imóveis em Portugal relataram dificuldades em alugar para brasileiros devido a comportamentos como festas barulhentas e superlotação de residências.
🔗 Fonte: BBC News Brasil – Moradores brasileiros enfrentam xenofobia ao alugar imóveis em Portugal
bbc.com
Quem está imigrando para Portugal?
Os principais grupos que chegam ao país vêm do Brasil, Índia, Nepal, Bangladesh e países africanos de língua portuguesa, como Angola e Cabo Verde. Muitos buscam melhores oportunidades de trabalho e segurança. Portugal, por sua vez, precisa de mão de obra, especialmente em setores como construção civil, serviços e tecnologia.
Mas nem sempre a chegada é tranquila. Relatos de xenofobia, racismo e exclusão são comuns — especialmente com brasileiros, que são o maior grupo de imigrantes do país.
“Estamos perdendo nossa identidade”
Além das questões econômicas, há um medo simbólico: o de perder a identidade cultural portuguesa. Parte da população sente que a chegada em massa de imigrantes muda a dinâmica dos bairros, altera os costumes e cria bolhas culturais. Essa percepção, embora subjetiva, está presente em entrevistas, redes sociais e nas ruas.
“51% dos portugueses vêem os imigrantes como uma ameaça aos valores e tradições nacionais”
De acordo com o Barómetro da Imigração da Fundação Francisco Manuel dos Santos, uma parte significativa da população portuguesa considera que a presença de imigrantes ameaça os valores culturais do país.
🔗 Fonte: Visão – O que pensam os portugueses sobre os imigrantes?
sicnoticias.pt
Reclamações frequentes dos portugueses sobre a imigração:
- Aumento no custo dos aluguéis
→ Muitos dizem que os preços dispararam com a chegada de imigrantes e o aumento da procura por habitação.
- Falta de moradia acessível
→ Moradores alegam que já não conseguem viver nos bairros onde nasceram, pois os imóveis disponíveis são escassos ou caros.
- Sobrecarga dos serviços públicos
→ Reclamações sobre unidades de saúde, escolas e transportes mais lotados.
- Concorrência no mercado de trabalho
→ Alguns portugueses afirmam que imigrantes aceitam salários mais baixos, o que pressiona o mercado e reduz oportunidades para locais.
- Mudanças culturais rápidas
→ Parte da população diz sentir que os bairros “deixaram de parecer portugueses” e reclamam da “perda de identidade cultural”.
- Aumento da insegurança
→ Alguns associam (com ou sem base real) o aumento da criminalidade à imigração, especialmente em áreas com grande concentração de estrangeiros.
- Sensação de desorganização e falta de controle
→ Muitos apontam que o governo não tem um plano claro para lidar com o crescimento da imigração.
- Benefícios sociais sendo usados por estrangeiros
→ Há quem critique que imigrantes têm acesso a apoios sociais, mesmo sem terem contribuído por muitos anos.
- Falta de respeito por costumes e regras locais
→ Alguns portugueses reclamam que certos imigrantes desrespeitam normas sociais, ignoram o idioma local e demonstram pouca vontade de se integrar à cultura portuguesa.
- Crescimento da informalidade e exploração no trabalho
→ Também há queixas de que empresas contratam imigrantes informalmente, o que prejudica todos no mercado de trabalho.
Imigrantes também sofrem
Do outro lado, os imigrantes enfrentam desconfiança, dificuldade de regularização, salários baixos e preconceito cotidiano. Muitos não conseguem alugar casa por serem estrangeiros, são explorados no trabalho ou vivem em habitações precárias.
Mesmo assim, o país ainda é visto como um porto seguro, especialmente por quem foge de crises em seus países de origem.
O dilema português
Portugal vive um dilema: precisa da imigração para sustentar sua economia e compensar o envelhecimento da população.
Especialistas sugerem que o país mantenha políticas de acolhimento, mas com mais planejamento, diálogo com a população local, combate à desinformação e investimentos em habitação e serviços públicos que contemplem todos.
Hora de agir com responsabilidade
O debate sobre a imigração em Portugal deixou de ser uma questão distante e virou um tema central para o futuro do país. Entre a solidariedade e o medo, entre o acolhimento e a rejeição, o desafio está em equilibrar a necessidade de crescimento com o respeito às comunidades locais — e aos que chegam buscando apenas a chance de recomeçar.
Fontes: