Mounjaro, Emagrecimento e Alzheimer: Existe Ligação?

Você tomaria um remédio para diabetes ou emagrecimento se soubesse que ele pode proteger seu cérebro contra o Alzheimer? E se esses mesmos medicamentos também aumentassem os riscos de doenças renais ou pancreáticas? Estaríamos diante de uma revolução silenciosa na neurologia — ou apenas de mais um efeito colateral inesperado da indústria farmacêutica?
As novas evidências são robustas, surpreendentes e merecem atenção.

Uma Descoberta Inesperada

Um estudo com mais de 215 mil veteranos norte-americanos com diabetes tipo 2 revelou que o uso de medicamentos da classe GLP-1 agonistas — como Ozempic (semaglutida), Wegovy e Mounjaro (tirzepatida) — está associado a uma redução de 12% no risco de desenvolver Alzheimer.

O estudo comparou usuários de GLP-1 com pessoas que usavam apenas insulina, e os dados mostraram uma diferença estatisticamente significativa na incidência de demência tipo Alzheimer ao longo do tempo.

Como Esses Remédios Funcionam?

Os medicamentos GLP-1 são usados para tratar diabetes tipo 2 e, mais recentemente, têm sido amplamente prescritos para emagrecimento. Eles atuam imitando um hormônio intestinal que estimula a liberação de insulina e reduz o apetite, promovendo perda de peso.

A possível ligação com o Alzheimer pode estar relacionada à melhora na inflamação sistêmica, regulação da glicose no cérebro, ou redução de fatores de risco metabólicos, todos associados ao desenvolvimento de doenças neurodegenerativas.

Nem Tudo São Boas Notícias

Apesar do potencial protetor para o cérebro, os dados também apontaram riscos preocupantes. Pacientes que usam GLP-1 têm maior probabilidade de desenvolver:

  • Problemas gastrointestinais severos
  • Pancreatite
  • Doença renal aguda
  • Obstrução intestinal

Esses efeitos adversos não são comuns, mas podem ser graves, principalmente em pessoas com histórico de doenças pré-existentes.

O Que Isso Significa para o Futuro?

Essa descoberta reacende o debate sobre o uso de medicamentos “fora da bula”. Os remédios GLP-1 já ultrapassaram os limites do tratamento do diabetes e se tornaram populares entre celebridades e clínicas de emagrecimento, mas agora também entram no radar da neurologia.

Será que veremos no futuro um Ozempic prescrito para prevenção de Alzheimer, mesmo em pessoas não diabéticas? Ou os efeitos colaterais limitarão seu uso? O estudo ainda não é definitivo, mas abre caminho para ensaios clínicos com foco direto em doenças neurodegenerativas.

O Que Isso Nos Mostra

A ciência continua a nos surpreender. Medicamentos criados para um fim podem, sem aviso, revelar benefícios ocultos — e riscos inesperados. O que parece milagre para alguns, pode ser armadilha para outros. O futuro da prevenção do Alzheimer pode estar, silenciosamente, sendo moldado no campo da endocrinologia e do metabolismo.


Referência

Financial Times. “Weight-loss drugs may help cut Alzheimer’s risk, research finds.” Publicado em 10 de junho de 2024.
Disponível em: https://www.ft.com/content/015e989d-75ca-4cbe-b315-13f910e35b62

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *